sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Consequências do insucesso/ Como promover o sucesso?

Why young elite athletes fear failures: consequences of failure
Sagar, S.S.; Lavallee, D.; Spray, C.M.
School of Sport and Exercise Sciences, Loughborough University, Loughborough, UK
Journal of Sports Sciences, 2007

Depois de entrevistar alguns atletas, os autores apresentam as principais consequências do erro e do insucesso:
  • Diminuição da auto-estima
  1. Perda de auto-confiança
  2. O insucesso faz diminuir a confiança
  3. Ações de punição contra si mesmo
  • Não há realização pessoal
  • A derrota provoca um grande desgaste emocional
  1. sentimentos negativos
  2. humor negativo
  3. sentimento de culpa
  4. não se sente bem após ser repreendido e criticado
  • Desilude os outros
  1. não vai de encontro às expetativas e desilude as pessoas (treinador, pais, ele próprio, amigos)
  2. prejudica essas outras pessoas (treinador, pais, colegas de equipa)
  • Avaliação social negativa
  1. julgamento negativo por parte das outras pessoas (pessoas, treinador, colegas de equipa)
  2. perder o respeito dos outros (amigos, outras pessoas, treinador)
  3. as outras perdem o interesse nele
  • Perdem a motivação e desistem
  1. perdem a motivação
  2. perdem a motivação e desistem
  3. pensam em desistir
  • perdas
  1. perde dinheiro
  2. sai do torneio
  • tem um futuro incerto
  1. não é selecionado e perde oportunidades para o futuro (não é convocado nem sabe a quais jogos é que vai)
  2. deixa de confiar no treinador
  3. o insucesso tem consequências no seu desempenho no desporto e no resto da vida       
  • Pensa que os insucessos vão voltar sempre a acontecer 
  1. isso deixa dúvidas na cabeça dele
  2. provoca medos
  3. ele fica preocupado por perder novamente
  4. tem medo de falhar novamente
  • Perdas inatingíveis
  1. perde a alegria
  2. esgota as suas hipóteses
  3. aumentam a confiança dos outros                    

"Quando os propósitos do jogo (ganhar, jogar bem) não forem alcançados, os atletas podem encarar isto como uma ameaça para os seus objetivos. Por outras palavras, eles podem perceber que o insucesso (não ganhar, não jogar bem) vai colocar em perigo as suas chances de chegar aos objetivos desejados e desta forma percebem a falha como uma ameaça."
Não é surpresa que os atletas baixem um pouco a sua auto-estima e a auto-confiança... (Smith, 1989)."
"Alguns atletas dizem que perdem motivação depois de falharem e têm pensamentos de abandonar o desporto. Isto deixa perceber que o insucesso tem várias consequências na motivação dos atletas.
Alguns atletas percebem que o insucesso faz os seus treinadores infelizes, aborrecidos e desapontados. Esta perceção tem várias consequências para a relação com os seus treinadores. A relação treinador-atleta é reconhecida como importante no alcance do sucesso e na realização pessoal. (Smith and Smoll, 1996). 
  
Uma boa relação treinador-jogador está associada à satisfação do atleta, auto-estima, sucesso, melhor desempenho e coesão da equipa (Gardner, Shields, Bredemeier & Bostrom, 1996).
Smith, 1989 relata que o medo de falhar é das mais comuns respostas ao stress por parte dos atletas porque para a maioria dos atletas o sucesso é o maior responsável pelo reconhecimento e auto-estima. 
"Jovens atletas podem ter medo de falhar em jogos de maior dimensão pois, os seus desempenhos são julgados pelos treinadores, pais, pares e pelo público, havendo pressão para vencer e alcançar uma boa exibição, onde o insucesso traz consequências." 

As crianças podem abandonar o desporto se elas encontrarem nele mais uma competição atlética demasiado aversiva e ameaçadora ao invés de divertida e estimulante. (Smith & Smoll, 1990). 
 
     
 http://vimeo.com/25397042 

Este é um vídeo interessante de uma equipa de jovens praticantes de um escalão de base que está sempre a ser derrotada. Neste vídeo os sentimentos negativos estão um pouco ocultados... Os autores queriam fazer do vídeo um vídeo mais alegre. A postura do treinador é ótima na medida em que está despreocupado com o resultado, ou melhor, o processo significa mais do que o resultado. A postura dos pais é igualmente ótima na medida em que brincam com o jogo, não colocando pressão sobre as crianças. Temos já dois pontos essenciais para uma boa formação desportiva... mas falta um terceiro que é fulcral...

Como devemos promover o sucesso?
Porquê o 7x7 para alunos que ainda não revelam competência?
Será esse o desafio mais adequado, o estímulo adequado?


   

Recomendo portanto duas situações:
1. Ensino do jogo a partir do ensino dos princípios gerais e específicos do jogo. Podemos fazê-lo a partir de situações de jogos reduzidos/simplificados, mapeando o campo, de forma a ensinar em simultâneo, quais as missões táticas específicas. No jogo reduzido, podemos ajudar a aprender o jogo, colocando o aluno num contexto natura de jogo, estimulando-o a desenvolver as várias dimensões do jogo (física, técnica, tática, psicológica e inteligência de jogo). Não devemos isolá-las.
2. Alteração nos quadros competitivos. Os modelos atuais só ajudam a promover o sucesso dos alunos mais competentes. Mas os alunos muito competentes são uma pequena minoria... e os outros?
Assim, penso que para o mesmo escalão podiam realizar-se vários modelos, como por exemplo:

Petizes 2x2/3x3
Traquinas 3x3/4x4/5x5
Benjamins 5x5/6x6/7x7
Infantis 5x5/6x6/7x7
Iniciados 7x7/9x9/11x11

Os diferentes modelos competitivos podem ser dissociados não só tendo em conta a idade (ex. Iniciados A 11x11, Iniciados B 9x9; Infantis A 7x7, Infantis B 5x5/6x6; Benjamins A 7x7, Benjamins B 5x5/6x6; Traquinas A 5x5, Traquinas B 3x3/4x4; Petizes A 3x3/4x4, Petizes B 2x2/3x3) mas também tendo em conta o nível dos alunos de cada equipa. Porém, como o estatuto social tem demasiada importância, e este advém da vitória, mesmo nos escalões de base, esta hipótese (nível) seria um desastre, pois havia vários clubes a deturpar esta ideia.

Assim e visto que as Associações de Futebol não têm condições para organizar mais do que uma prova diferente... a solução pode passar por serem os clubes, as academias e escolas de futebol a organizar mais momentos competitivos para os nossos alunos.
Assim, o clube pode ter uma competição para os alunos mais competentes no modelo competitivo definido pela Associação de Futebol local e outra competição com um modelo competitivo mais simples para os nossos alunos com menos competência. 
Assim conseguimos que todos continuem a evoluir e conseguimos mantê-los motivados para a prática do futebol, mantendo a sua auto-estima e realização pessoal.


No entanto, ainda são poucos os treinadores que se centram mais no bem-estar e realização dos seus alunos em prol do seu próprio estatuto social...    

E então? Vais continuar a ceder pressões para obter melhores resultados mesmo nos escalões de base (onde é totalmente irrelevante...)?