quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fútbol a la medida del niño

Desarrollar la inteligencia del juego para jugadores hasta catorce años 
Horst Wein
Centro de Estudios, Desarrollo e Investigación del Fútbol
Real Federación Española de Fútbol


Devido a uma insuficiente atenção prestada à formação de formadores ou iniciadores em futebol, observa-se com preocupação que o treino se baseia, na maioria das vezes, ao ensino de gestos técnicos ou no jogo formal.
O interesse em conseguir uma correta execução dos gestos técnicos com exercícios estereotipados que não refletem a real situação de jogo, distrai muitos formadores e treinadores de outros elementos vitais inerentes ao jogo, como são os problemas: Porquê? Quando? Onde exibir um gesto técnico?
Considerando que a perda da posse de bola deve-se 50-100% das vezes a erros de perceção e tomada de decisão e não a uma deficiência técnica, estes problemas exigem mais atenção para o futuro.
Dar prioridade à técnica e ao cumprimento estrito das ordens do treinador sem envolver suficientemente o jogador na solução dos problemas, impediu muitos jovens de entenderem o jogo nos seus aspetos mais básicos. Só assim se explica que hoje dispomos de um número insuficiente de jogadores inteligentes capazes de solucionar os múltiplos problemas que estão presentes constantemente no jogo.


As razões pela qual a maioria dos treinadores orientam basicamente seu treino pelo ensino de gestos técnicos são várias:
  1. Muitos treinadores estão convencidos que não se pode deixar jogar aquele aluno que ainda não consegue dominar todos os gestos técnicos básicos.    
  2. Para um treinador é muito mais fácil ensaiar, demonstrar, explicar e avaliar técnicas em situações estritamente controladas e previsíveis.  
  3. A maioria dos clubes, embora se divida uma sessão de treino em três blocos, o tradicional aquecimento sem bola, a parte principal com a prática de uns exercícios técnicos e um mini-jogo, concluindo quase sempre com um jogo final entre duas equipas compostas por metade dos futebolistas participantes na sessão. Neste jogo, frequentemente, os jogadores não conseguem aplicar o aprendido anteriormente por terem praticado a técnica geralmente em situações isoladas que não estão presentes no jogo. 

É demasiado frequente esquecerem-se que o rendimento no futebol depende muito das capacidades percetivas do jogador e dos processos cognitivos. Com a finalidade de elevar o nível de jogo, estes aspetos devem ser desenvolvidos com a mesma atenção que as habilidades e capacidades técnicas e físicas (condicionais).
Mas como se pode jogar futebol sem antes dominar suficientemente a condução da bola, o remate e a receção?
Não estamos a negar desta forma a importância da execução destes gestos técnicos?


É importante para o êxito de qualquer equipa conhecer não só como passar a bola mas também quando, onde e por que é que deve passar com uma ou outra técnica. É necessário, no futuro, colocar maior ênfase nos aspetos do jogo, sem menosprezar a necessária aquisição de um vasto repertório técnico por cada jogador, que quanto maior, melhor. 

Mudando a forma de planificar e realizar o treino, aumentará em poucos anos o número de “jogadores inteligentes”, mas a sua quantidade só alcançará uma percentagem satisfatória quando conseguirmos um acordo de todos para reestruturar também as competições oficiais para os jovens com menos de 14 anos. As atuais são pouco formativas, os alunos não têm a possibilidade de descobrir, aprender e aplicar os princípios básicos do jogo de futebol, já que não respeitam o estado mental e físico dos jovens.

Uma sessão de treino que não visa melhorar a visão de jogo, que não exige frequentemente a tomada de decisão por parte do jogador, nem envolve a capacidade mental, física e que não visa o ensino dos comportamentos sem bola, é uma sessão pouco eficaz, pouco motivadora, atrativa e pouco formativa. A saída de muitos jogadores das escolas de iniciação ao futebol, em tenra idade, pode explicar-se em parte, pelo uso de métodos inadequados.
Todos os jogadores deveriam competir mais nos treinos, mais frequentemente com problemas que o técnico lhes coloca através de jogos reduzidos/simplificados. Durante a prática de um jogo reduzido/simplificado simulam-se as situações mais importantes da competição, dando aos jogadores tempo suficiente para explorarem e entenderem os princípios e os problemas que encontram no jogo. O jogador, com ou sem ajuda do treinador, aprende a tomar constantemente decisões sobre O QUE fazer, QUANDO e COMO. Uma técnica só pode ser praticada quando a situação do jogo simplificado o exija ou quando o jogador não seja capaz de solucionar o problema, aquando de uma deficiência técnica por parte do aluno.
 



Cada época tem as suas tendências. No futebol passa-se o mesmo.
Nos anos 60 e 70 a preocupação estava centrada com a execução dos gestos técnicos.
Na década seguinte, 80 a 90 centrou-se mais a preocupação em torno da preparação física do futebolista.
Depois dos anos 90, a componente tática, os aspetos táticos passaram a dominar o treino.
Qual será a tendência do novo ciclo?



Há um aspeto do rendimento do jogador ao qual não se dá a devida importância dentro do ensino e que pode caraterizar a segunda metade da primeira década do século XXI, que é a capacidade de inteligência do jogador, o motor de qualquer prestação futebolística e responsável pela qualidade do jogo.

Porém, se o aluno não tiver ninguém a aconselhá-lo acerca das suas experiências propriamente adquiridas, tardaria muito ou nem chegaria a um alto nível de prestação. Para que chegue, é necessário que tenha por perto a experiência do adulto, em palavras e sobretudo através de exemplos. Isso não só é válido em todas as situações de vida dos alunos (escola e em família) bem como no campo do desenvolvimento do pensamento e comportamento tático no futebol.



Todos os jovens deveriam ser expostos, o mais cedo possível, a jogos simplificados durante os treinos, já que é a melhor forma de ganharem conhecimentos e experiências táticas acerca de uma correta aquisição de hábitos tático-técnicos. Quanto mais conhecimentos tenham, melhor! Mas a experiência subjetiva não é de todo suficiente! A aquisição de conhecimentos e experiências será mais relevante no processo pedagógico quando o formador, por intermédio de perguntas clarificadoras e demonstrações estimular os alunos a pensarem.
Uma estimulação com uma pergunta, um aviso ou um conselho, uma explicação ou uma demonstração por parte do formador com um número suficiente de repetições da mesma situação de jogo e finalmente a transferência da solução do problema a situações de jogo muito similares, por intermédio de variantes, construídas na mente do jovem futebolista um fundamento sólido para o desenvolvimento da sua inteligência de jogo. 


A inteligência de jogo desenvolve-se por intermédio do método global com jogos tático-técnicos como 3x1/2x1/3x2 porque cada jogador tem várias soluções para resolver qualquer dos distintos problemas inerentes ao mesmo jogo simplificado. Com um programa de jogos progressivos em dificuldade e complexidade desenvolve-se o pensamento e comportamento tático do jovem passo a passo até que cada jogador tenha para cada situação de jogo, várias soluções à sua disposição. Não importa se a sua atuação no campo seja fruto da prática repetitiva de situações de jogo nos treinos ou se é devida à sua espontaneidade. Decisivo é que o jogador seja capaz de ler a situação de jogo e resolver os problemas com êxito.


Uma melhor perceção conduz a uma melhor tomada de decisão e finalmente uma eficaz execução técnica da ação pensada são os pré-requisitos imprescindíveis para poder elevar nos anos seguintes o nível de jogo no futebol.


O que se entende por inteligência de jogo no futebol?
Antonelli e Salvini (1982) Inteligéncia é “a capacidade geral de se adaptar com o pensamento às exigências e às situações novas que a vida oferece e conseguir resolvê-las”. Para o futebolista a inteligência dá-se a conhecer na busca consciente de soluções para cada um dos problemas que surgem na competição. Um futebolista inteligente vê, conhece e domina as distintas opções de resolver estes problemas, optando com frequência pela mais acertada.
Como todas as pessoas, os futebolistas são inteligentes, mas o seu grau de inteligência e o tipo de inteligência de cada um são muito diferentes. Cada desmarcação no campo ou tarefa a cumprir exige outro tipo de inteligência, sabendo que a do guarda-redes é bem distinta daquela que deve ter um defesa ou um atacante. Os problemas não se resolvem da mesma maneira na defesa e no ataque, no campo ou na baliza. 

“Nada puede influir tanto al desarrollo del juego como la inteligência futebolística de sus praticantes”

A inteligência do jogador deve ser considerada como o motor da conduta desportiva e um dos determinantes do seu êxito. 

“No podrá realizarse un fútbol de calidad sin acudir a la inteligência” (Santiago Coca, 1985).



De que serve uma boa preparação física ou uma técnica adequada sem o apoio de uma menta desperta ou da inteligência? E para que nos serve um jogador que demonstra saber resolver mentalmente os conflitos, se não sabe traduzi-los em gestos técnicos ou físicos brilhantes.
Para que tenhamos no futuro, mais jogadores inteligentes no campo, os formadores e treinadores deveriam estimular muito mais e instruir muito menos! A aprendizagem motora deveria ser complementada sempre com uma aprendizagem cognitiva para chegarmos a uma aprendizagem significativa.


“Un variado y progresivo entrenamiento com juegos simplificados es el medio más idóneo para desarrollar paso a paso la inteligência de juego en el fútbol”


Sem uma adequada estimulação, o código genético não nos garante um jogador completo e inteligente. O futebolista nasce e faz-se!


À medida que a maturação e o funcionamento do cérebro avançam, os estímulos devem ser mais complexos para garantir o crescimento constante. É conveniente organizar uma sucessão de estímulos adequados que se adaptem sempre ao calendário do desenvolvimento cerebral do jogador, como demonstram os programas dos jogos simplificados formados por 2,3 e 4 jogadores em uma equipa e uma proposta para uma progressão lógica das competições formativas.



Uma criança normal explora constantemente o seu envolvimento. Também é assim no campo de futebol. Uma formação correta garante que essa exploração na presença de um professor seja um êxito. Por isso, o formador está responsável por colocar um estilo de ensino estimulante e deve dispor de jogos à medida da criança, para que o aluno se divirta constantemente e receba os estímulos necessários para o desenvolvimento ótimo das suas capacidades cerebrais. Os jogos são planificados de forma a estimular o desenvolvimento das conexões neuronais, aptidões cerebrais e habilidades físicas. 


Um cérebro bem desenvolvido, o qual estabelece o maior número possível de conexões, é capaz de relacionar melhor e mais rapidamente um maior número de conceitos entre si, pode analisar mais rápida e profundamente a realidade que rodeia o jogador, imaginar e encontrar mais e melhores soluções para o mesmo problema que surge no jogo e ponderar melhor cada uma das opções antes de adotar uma decisão final sobre o que fazer, como, quando e em que lugar fazê-lo.


“En la formación de futuros futebolistas abundan todavia los instructores que suelen dar o regalar peces, día tras día a sus discípulos, mientras hay pocos formadores que les enseñan a pescar.” 

O ensino tradicional com os seus treinos e competições inadequadas prejudicam todos os jovens jogadores, porque impedem o desenvolvimento das suas áreas cerebrais.



“El predominio y la dominância del hemisfério izquierdo sobre el derecho se há traducido en una mejor funcionalidade mecânica de las personas, en detrimento de la capacidad para generar ideas y actuar autónomo. Por este motivo no es extraño en el deporte encontrarse con una gran mayoria de atletas muy cualificadas física y tecnicamente, pero incapaces de pensar y razonar com independencia y eficácia”

“Hace falta limitar la enseñanza de tipo analítica y conceptual que incide en el hemisfério izquierdo del cérebro, a favor de la sintética y expressiva que favorece la intervención del hemisfério derecho, equilibrando así las defiiencias de desarrollo que se manifiestan actualmente en el aprendizaje”
(Ernesto mascarell Pérez)

Segundo Lozanow (anos 70), a aprendizagem é maior quando o professor sabe estimular os alunos com a sua atividade proposta, estimulando o hemisfério esquerdo e direito. O primeiro encarga-se principalmente de tarefas que requerem um enfoque lógico, metódico e analítico, enquanto que a parte direita do cérebro integra a capacidade criativa, a intuição e a orientação no espaço e no tempo.
O enfoque tradicional do ensino do futebol não considera com a devida importância a participação do hemisfério direito do jogador. Para aprender a jogar melhor futebol faz falta estimular-se em cada sessão de treino os três componentes (corpo, hemisfério esquerdo e direito do cérebro).  
 
  
É preciso romper com o método tradicional caraterizado por:
  • Tomar como ponto de partida o jogo dos adultos com as regras oficiais da FIFA sem adaptá-las para as crianças. A criança de 7/8 anos compete com as mesmas regras dos profissionais;
  • Acelerar o desenvolvimento do jogador e colocar-lhe de forma precipitada desafios com a complexidade do futebol regulamentado; 
  • Oferecer treinos com conteúdos que não estão de acordo com aquilo que a competição exige;
  • Depois de muitos exercícios (exercícios fechados – método analítico) é que eles têm jogo (atividade aberta – método global) em vez de considerar como ponto de partida o método global, o jogo aberto, para posteriormente exercitar o que faz falta para poder jogar melhor. O jogo não pode ser visto como um prémio mas sim como uma necessidade;
  • Considerar a técnica, a tática, a preparação física e mental isoladas, pensando que a soma das 4 dimensões é que assegura um bom rendimento do jogador;
  • Conceder uma importância excessiva ao mecanismo da execução técnica, ensinando principalmente “como” fazer as coisas. O ensino passa por ensinar diferentes gestos técnicos isolados do resto das componentes do jogo, gestos pouco significativos que os jogadores assimilam até automatizarem, depois de várias repetições; 
  • Considerar o jogador como um sujeito passivo que deve seguir as instruções do técnico. A criança converte-se num sujeito executante em vez de um jogador pensante e tem com o seu treinador uma relação de total dependência;
  • Buscar resultados rápidos na competição com uma cumplicidade entre técnico e jogadores para conquistar os resultados no menor tempo possível.