Os efeitos da fadiga no processo
de tomada de decisão em tarefas desportivas - Araújo, D., & Esteves, P.
Laboratório de Psicologia do Desporto; Faculdade de Motricidade Humana; Universidade Técnica de Lisboa
Tomar
decisões é orientar mudanças ao longo de um curso de interação com o contexto,
visando um objetivo. Estas mudanças no curso de ação podem ter origem
predominantemente no indivíduo (força muscular, intenção) ou no contexto (as
linhas de jogo), mas resulta sempre da interação entre jogador e contexto
(Araújo, 2005).
Daqui
pode-se depreender que o comportamento decisional ao longo do jogo, não só
incorpora a atualização do estado do contexto de jogo, como também do estado em
que se encontra o indivíduo. Um dos aspetos do jogador que se altera com o
decorrer do jogo é o nível de fadiga.
Nos
desportos coletivos com bola assume-se a influência da fadiga quando se
constata uma deterioração na produção de trabalho à medida que se aproxima o
final do jogo. Esta inferência provém de estudos que compararam a distância
percorrida entre a primeira e a segunda parte de jogos de futebol. Por exemplo,
Bansgbo et al. (1991) relatam que a distância percorrida na 1ª parte de um jogo
de futebol é 5% maior que na 2ª parte.
Todavia,
o facto de se percorrer uma menor distância não implica necessariamente uma
menor eficácia do desempenho.
O
comportamento decisional enquanto sistema de ação:
Um
indivíduo pode, regra geral, estabelecer as mesmas relações funcionais com o
seu ambiente de diversas maneiras, implicando para isso diferentes estruturas
anatómicas. Este fenómeno é descrito como equivalência motora. Por exemplo, um
jogador de futebol pode marcar um golo com um ou outro pé, com a cabeça ou com
o peito.
Então,
mas como podemos conceber o modo como o comportamento decisional orientado para
atingir um objetivo é influenciado na fadiga?
Efeitos do exercício nos processos
cognitivos
Parece
contra-intuitivo os estudos de laboratório apontarem no sentido inverso aos
inúmeros casos relatados sobre o decréscimo do desempenho do trabalhador, em
que a razão é atribuída à fadiga. Porém, as extensas revisões dos referidos
autores apontam para que cargas agudas de exercício facilitem seletivamente
múltiplos processos cognitivos: o exercício pode melhorar a velocidade de
resposta e a exatidão da resposta, pode facilitar os processos cognitivos
envolvidos na resolução de problemas, bem como a “goal-oriented action”
(Tomporowski, 2003). Em termos do tipo de esforço, vários estudos demonstram
melhorias no desempenho cognitivo dos participantes durante e após períodos de
exercício aeróbio realizado em intensidades moderadas. Exercício anaeróbio
intenso não diminui o funcionamento cognitivo, exceto quando um indivíduo entra
em desidratação ou vai para além de um estado de extrema depleção da energia
armazenada.
Como
é que isto pode ser explicado?
Vários
autores (Arcelin, 1998; Tomporowski, 2003), defendem que quando um indivíduo
está empenhado em atingir um objetivo, a alocação de recursos
cognitivo-energéticos para a tarefa permite que se mantenha a mesma qualidade
do desempenho, mesmo durante exercício à máxima intensidade. Segundo
Brisswalter et al. (2002), alguns estudos que utilizaram tarefas com exigências
decisionais detetaram uma zona ótima de intensidade de exercício na qual há
melhoria do desempenho cognitivo.
O
atleta pode acumular fadiga no decurso de um jogo (o decorrer do jogo
influencia o estado do jogador), como também o jogador à medida que acumula
fadiga modifica o seu comportamento decisional em jogo (a fadiga influencia o
decorrer do jogo), embora os níveis de relação funcional (eficácia) permaneçam
estáveis ou até aumentem com o decorrer do jogo (Davids & Araújo, 2005).
[No entanto, os autores basearam-se
em tarefas artificiais…]
Conclusão:
A
tomada de decisão, independentemente do nível de experiência, foi mais exata
com intensidades elevadas do que com intensidades baixas.
Em
tarefas específicas do desporto, onde a exigência decisional é elevada, apesar
da fadiga fazer-se sentir segundo a perceção dos jogadores, o desempenho
manteve-se eficaz, ou até chegou mesmo a aumentar a sua eficácia.
Num
estudo de Royal et al. (2006) foi assumido que a especificidade da tarefa
permitiria aos participantes peritos implementar estratégias de auto-controlo
(focalização da atenção, controlo do arousal) e de auto-monitorização seletiva
para otimizar o desempenho na tarefa específica do desporto (Kitsantas &
Zimmerman, 2002). Estes autores previam que desta forma seria minimizada a
probabilidade de um declínio no desempenho cognitivo à medida que a fadiga
aumentava.
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